A exposição “Loiça de Sacavém na Memória da Vida Portuguesa” Colecção Miguel Calado no Museu Municipal de Portalegre é uma oportunidade de conhecer não só o percurso histórico daquela que se tornou a maior fábrica de cerâmica da Península Ibérica, mas também a enorme variedade de peças que dali saíram.
Distribuída por três espaços distintos a exposição é acompanhada por painéis explicativos com informações relevantes e as inúmeras peças expostas tanto nas paredes como em vitrines estão acompanhas de legendas que permitem aos visitantes tanto saciar a curiosidade imediata como também servir de ponto de partida para obter mais informação posteriormente usando as facilidades que a tecnologia hoje permite aos cidadãos.
No primeiro espaço o visitante encontra para além de uma grande variedade de documentos publicitários e informações sobre a localização da fábrica, como uma planta da localização, uma vitrine onde podem ser vistas peças que que têm referências a Portalegre no grafismo ou são referentes a elementos ligados a Portalegre, como o prato encomendado pelo Regimento de Infantaria 22, peça esta pertença do acervo do Museu Municipal.
No segundo espaço já podemos encontrar os painéis informativos que nos dão conta do enquadramento histórico e do que foi o grande movimento de encomendas relevante para o sucesso e viabilidade da fábrica ao longo dos seus mais de 100 anos de laboração. De destacar neste espaço a reprodução feita para a visita da rainha Isabel II de Inglaterra em 1985 a partir do original do escultor Leonel Cardoso (1898-1987) produzida para a primeira visita da mesma rainha em 1957 e que representa a Aliança Luso-Britânica através do abraço entre John Bull e Zé Povinho.
O terceiro espaço, o mais amplo e variado, é aquele onde facilmente os visitantes mais rapidamente podem identificar peças idênticas ao que encontraram nas casas dos avós ou até mesmo fazem parte das suas coleções pessoais. Uma zona deste espaço está reservada para uma simulação de uma sala portuguesa com uma mesa de refeição com um serviço completo que muitos relembram como a mesa dos almoços de domingo em família.
A variedade de peças é enorme e aqui podemos também encontrar para além dos pratos de exposição, as loiças para hotelaria, estatuetas, azulejos e peças em miniatura que serviam de mostruário para as porcelanas de casa de banho que coincidindo com o aumento da construção civil em Portugal na década de 60 do século XX correspondeu a 70% da produção da fábrica.
Com data de fundação na década de 50 do século XIX a Fábrica de Loiça de Sacavém foi uma iniciativa do empresário Manuel Joaquim Afonso que viu uma vantagem geográfica comercial na proximidade do Rio Tejo e do caminho-de-ferro que começava a dar os primeiros passos e que tinha como prioridade a ligação Lisboa-Porto e Lisboa Madrid da qual o troço que passava por Sacavém era parte comum. Após este início a fábrica torna-se propriedade de três famílias inglesas residentes em Portugal durante cerca de 130 anos (Howorth, Gilman e Gilbert).
A visita a esta exposição é uma oportunidade para conhecer uma parte da história da industria portuguesa que pode ser complementada por uma visita ao Museu de Cerâmica de Sacavém mas é também uma oportunidade para a comunidade Portalegrense refletir sobre a forma como um espólio industrial com características idênticas em espaço, memória coletiva e relevância temporal pode ser colocado ao serviço da comunidade e evitar como aconteceu em Sacavém a destruição de todo o espólio para a construção civil de qualidade por não haver capacidade de entendimento entre todas as partes interessadas apesar de existir uma Fundação Fábrica Robinson a quem está entregue a conservação de todo o espólio.
Visitas entre 26 de Março e 30 de Outubro 2022
Museu Municipal de Portalegre
Praça do Município