Thursday, June 9, 2022

É outra Loiça

Fundada no século XIX, a fábrica de loiça de Sacavém teve um percurso de tal forma relevante na vida portuguesa que ainda hoje poucas serão as casas onde não exista pelo menos uma peça produzida na fábrica que adotou o nome da localidade que a viu nascer. Portalegre partilha com Sacavém uma página da história industrial e comercial das famílias inglesas que decidiram investir nestes territórios. Com datas de fundação idênticas estes projetos que chegaram aos milhares de trabalhadores têm hoje um lugar incontornável na história das localidades e o seu impacto foi tão grande que muito facilmente se encontra nas casas portuguesas tanto loiça de Sacavém como pavimento de corticite de Portalegre.

A exposição “Loiça de Sacavém na Memória da Vida Portuguesa” Colecção Miguel Calado no Museu Municipal de Portalegre é uma oportunidade de conhecer não só o percurso histórico daquela que se tornou a maior fábrica de cerâmica da Península Ibérica, mas também a enorme variedade de peças que dali saíram. 


Distribuída por três espaços distintos a exposição é acompanhada por painéis explicativos com informações relevantes e as inúmeras peças expostas tanto nas paredes como em vitrines estão acompanhas de legendas que permitem aos visitantes tanto saciar a curiosidade imediata como também servir de ponto de partida para obter mais informação posteriormente usando as facilidades que a tecnologia hoje permite aos cidadãos.

No primeiro espaço o visitante encontra para além de uma grande variedade de documentos publicitários e informações sobre a localização da fábrica, como uma planta da localização, uma vitrine onde podem ser vistas peças que que têm referências a Portalegre no grafismo ou são referentes a elementos ligados a Portalegre, como o prato encomendado pelo Regimento de Infantaria 22, peça esta pertença do acervo do Museu Municipal.


No segundo espaço já podemos encontrar os painéis informativos que nos dão conta do enquadramento histórico e do que foi o grande movimento de encomendas relevante para o sucesso e viabilidade da fábrica ao longo dos seus mais de 100 anos de laboração. De destacar neste espaço a reprodução feita para a visita da rainha Isabel II de Inglaterra em 1985 a partir do original do escultor Leonel Cardoso (1898-1987) produzida para a primeira visita da mesma rainha em 1957 e que representa a Aliança Luso-Britânica através do abraço entre  John Bull e Zé Povinho.


O terceiro espaço, o mais amplo e variado, é aquele onde facilmente os visitantes mais rapidamente podem identificar peças idênticas ao que encontraram nas casas dos avós ou até mesmo fazem parte das suas coleções pessoais. Uma zona deste espaço está reservada para uma simulação de uma sala portuguesa com uma mesa de refeição com um serviço completo que muitos relembram como a mesa dos almoços de domingo em família. 

A variedade de peças é enorme e aqui podemos também encontrar para além dos pratos de exposição, as loiças para hotelaria, estatuetas, azulejos e peças em miniatura que serviam de mostruário para as porcelanas de casa de banho que coincidindo com o aumento da construção civil em Portugal na década de 60 do século XX correspondeu a 70% da produção da fábrica.


Com data de fundação na década de 50 do século XIX a Fábrica de Loiça de Sacavém foi uma iniciativa do empresário Manuel Joaquim Afonso que viu uma vantagem geográfica comercial na proximidade do Rio Tejo e do caminho-de-ferro que começava a dar os primeiros passos e que tinha como prioridade a ligação Lisboa-Porto e Lisboa Madrid da qual o troço que passava por Sacavém era parte comum. Após este início a fábrica torna-se propriedade de três famílias inglesas residentes em Portugal durante cerca de 130 anos (Howorth, Gilman e Gilbert).


A visita a esta exposição é uma oportunidade para conhecer uma parte da história da industria portuguesa que pode ser complementada por uma visita ao Museu de Cerâmica de Sacavém mas é também uma oportunidade para a comunidade Portalegrense refletir sobre a forma como um espólio industrial com características idênticas em espaço, memória coletiva e relevância temporal pode ser colocado ao serviço da comunidade e evitar como aconteceu em Sacavém a destruição de todo o espólio para a construção civil de qualidade por não haver capacidade de entendimento entre todas as partes interessadas apesar de existir uma Fundação Fábrica Robinson a quem está entregue a conservação de todo o espólio. 

Visitas entre 26 de Março e 30 de Outubro 2022

Museu Municipal de Portalegre

Praça do Município









Thursday, June 2, 2022

Esta versão de “Um Crime no Expresso Oriente” não é primeira e certamente não será a última

 2017 • SUSPENSE • 114M • M/12

Nota: 3 (1/5) 


Kenneth Branagh,  (Belfast, Cinderella, Thor) o realizador e actor, assume não só a realização do filme mas também a interpretação da estrela maior da obra de Agatha Christie. Hercule Poirot é aqui apresentado através da famosa sofisticação de criação e desenrolar da narrativa que Branagh construiu  ao longo de uma carreira de 28 anos como realizador.


Trailer

O mistério escrito em 1934, Assassinato no Expresso do Oriente ao lado de E Não Sobrou Nenhum (1939), são os romances mais conhecidos de Agatha Christie, a Rainha do Crime. Tendo como ponto de partida um caso real ocorrido nos Estados Unidos, o rapto de Charles Augustus Lindbergh, Jr., filho de 1 ano e 8 meses do aviador Charles Lindbergh e Anne Morrow Lindbergh, raptado do berço da sua casa, a 1º de março de 1932, a autora adensa a narrativa e constrói várias personagens até ao refinamento do peculiar Hercule Poirot, densidade que o realizador aproveita para estabelecer a narrativa que segue o raciocínio do detetive para conduzir os espectadores durante o filme até à cena final onde nos apresenta o filme seguinte.

Com início na Jerusalém, caldo de culturas, religiões e diferenças sociais  o filme começa sugerindo a tensão entre as três religiões presentes na cidade com que nos identificamos rapidamente através do quotidiano do nosso século. 

Como filme de época que é a versão de Branagh é um filme que transborda o charme e exclusividade típicas das grandes viagens em comboio, com todas as suas vertentes e recursos estéticos que prendem as audiências, mas com suficientes camadas para fazer da nova versão deste clássico um momento de cinema em que podemos assistir ao  desvendar, não só do mistério do homicídio em si, como quem e o que representam na narrativa os passageiros do comboio.

Com o argumento de Michael Green, (Logan e Blade Runner 2049)  Poirot volta a manter as características a que estamos habituados e nos faz sentir que reencontrámos um velho conhecido mais do que alguém que acabámos de conhecer e os novos elementos que Green introduz numa apresentação teatral do personagem, algo pelo qual Branagh é conhecido, e ao mesmo tempo congratulado.

O homicídio que ocorre durante a noite e descoberto pela manhã muda a narrativa e a estética do que nos foi apresentado até então. Num plano de câmera muito pouco visto com uma tomada de vista vertical a narrativa segue a partir de então todo o raciocínio de Poirot e a corrida para encontrar o assassino antes que o comboio volte a circular. 

É a partir daqui com os espaços das entrevistas metodologicamente escolhidos para nos apresentar não só os espaços interiores do luxuoso comboio, mas também as fantásticas paisagens alpinas que ficamos a conhecer os  passageiros, e futuros suspeitos, que irão partilhar dias e noites de viagem com o até para eles já famoso detective. 

Sem grandes surpresas e até em alguns momentos um pouco monótono o enredo procura navegar entre aquilo que as personagens são, suspeitos de um homicídio e as motivações para estarem presentes na fatídica viagem. O famoso detetive tem a partir daqui uma tarefa digna “do melhor detetive do mundo” como ele próprio se apresenta de forma pouco humilde numa cena escolhida a dedo para nos transmitir um momento de herói invencível. Todos são suspeitos e todos podem ser inocentes e é a partir deste dilema que vemos Branagh e Poirot com as suas “celulazinhas cinzentas” a trabalhar o público e os suspeitos para ter a audiência num estado de dúvida e também desafiada a encontrar o assassino.

Entre os suspeitos, encontramos nomes já conhecidos, a princesa Russa (Judi Dench) que. Um detective (Willem Dafoe) rapidamente desmascarado por um erro de sotaque. Uma missionária (Penélope Cruz), uma viúva (Michelle Pfeiffer)  e ainda actores mais jovens como Josh Gad, Daisy Ridley e Leslie Odom Jr., entre outros. 



As paragens para explicar as personagens, com momentos a preto e branco, interrompem a fluidez e não contribuem significamente para o resultado final pela estagnação que provocam.

Chegados aqui e embora com um certo charme e demonstrador de mais uma faceta do detetive não é possível deixar de pensar o motivo para introduzir o elemento romântico e da amada de Poirot se depois isso não é explicado nem desenvolvido em nenhum momento do filme nem lançado para uma futura sequela.

Como nota final, estamos na presença de uma obra que tira partido das capacidades do elenco e dos muitos efeitos de CGI para nos transportar para o cenário alpino do mistério. Resumidamente Homicidio no Expresso do Oriente de Kenneth Branagh é uma versão capaz de nos prender ao ecrã sem que demos por mal empregue o tempo e no entanto também não nos surpreende de forma arrebatadora em nenhum momento.

Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express) — EUA 2017

Realização: Kenneth Branagh

Argumento: Michael Green (baseado no livro de Agatha Christie)

Elenco: Kenneth Branagh, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Daisy Ridley, Leslie Odom Jr., Johnny Depp, Josh Gad, Derek Jacobi, Michelle Pfeiffer,  Judi Dench, Olivia Colman, Willem Dafoe


Duração: 114 min.


Classificação: M12


Nota: 3 (1/5) 






Wednesday, June 1, 2022

J8 TVI

01/06/2022


O principal espaço de informação do canal generalista da TVI ocupa um espaço de tempo em antena aproximado de 90 minutos, o que confirma uma característica muito própria do panorama televisivo português caracterizado por espaços de informação em horário nobre bastante longos, que se afastam dos modelos informativos internacionais em que dominam os blocos informativo com notícias curtas que no seu todo não ultrapassam os 30 minutos, sem espaços publicitários ou intervalos.

O jornal da TVI abre 2 minutos antes da hora certa (19h58) com uma manchete de um assunto nacional sobre temas da saúde e permite ao pivot lançar 2 diretos com entrevistas pelos repórteres no terreno com responsáveis de hospitais no Porto e em Lisboa. Todo este momento leva os telespectadores num único tema até às 20h07.

Com cerca de 32 minutos dedicados à guerra da Ucrânia repartidos por várias reportagens, a guerra na ex-república soviética, aparece como o segundo tema do telejornal e ocupa logo os vinte minutos seguintes com várias reportagens e diretos dos enviados especiais que “entram” no telejornal para informar e lançar peças durante as suas intervenções. 

Após estes dois temas que já ocuparam 29 minutos de telejornal o espaço informativo é interrompido para uns longos 14 minutos de publicidade variada. 

O regresso do intervalo significa a volta à atualidade nacional e é acompanhada pela introdução de assuntos do governo e a relação com presidente da república seguidos de uma reportagem alargada sobre o aniversário de uma força de segurança com cinco minutos. Esta reportagem de alguma forma lança o tema seguinte sobre crime e a insegurança na diversão noturna que segue no alinhamento e que recorre ao vivo do repórter para apresentar os inúmeros dados que lança durante os seis minutos que dura toda a peça.

A economia e finanças é um tema que muitas vezes aparece nas notícias pois têm uma relação direta na vida daqueles que estão a assistir ao telejornal. Esta secção marca a passagem dos 53 minutos de programa três peças sobre a economia nacional.

A entrada no último terço do programa acontece às 21h05 com a atualidade internacional a ter como temas a economia do país vizinho, Espanha, e a politica com reportagem e mais um direto para reportar sobre as eleições de um país da União Europeia. 

Nesta fase voltamos à guerra da Ucrânia e após uma intervenção do pivot em estúdio são apresentados mais dez minutos de reportagens sobre a guerra no país e onde se destaca a reportagem sobre como os media internacionais estão a cobrir a guerra do lado russo.

A partir daqui o programa acelera para o fim com uma peça sobre desporto em Portugal e invariavelmente o assunto é futebol e a vida de um dos três clubes principais em Portugal, o Sport Lisboa e Benfica, seguido de duas peças que envolvem desportistas ao melhor estilo fait divers sobre assaltos a jogadores de futebol.

Ao mundo das artes e cultura são reservadas as duas últimas peças que não apresentam nenhuma evento cultural mas dão noticia sobre assuntos da industria de cinema de Hollywood, reforma prematura do actor Bruce Willis e o seguimento dos desenvolvimentos da agressão a Chris Rock durante a cerimónia dos Óscares por Will Smith.

21h32 o pivot aparece e despede-se... 

21h33

Fim


J8 no TVI Player













Wednesday, March 23, 2022

O Bom Malandro

11/3/2022

  Para uns uma referência, para outros um nome que conhecem através dos livros que escreveu, Mário Zambujal o jornalista e escritor que nunca procurou a fama pessoal, ganhou um espaço de destaque na freguesia que tomou como sua casa depois de deixar o Alentejo para enveredar na carreira jornalística. Num dia que acordou cinzento, o jornalista viu-se rodeado de amigos e antigos camaradas e profissão que quiseram estar presentes em mais um momento importante na vida do autor e da freguesia num evento que celebrou não só o percurso e obra de Mário Zambujal mas também a arte urbana do mural como expressão cultural, a forma escolhida para homenagear o consagrado jornalista.
    O mural da artista Mariana Duarte Santos pode ser visto na estrada de Benfica, contêm referências ao percurso de vida do jornalista e ao próprio através de um retrato. Das escolhas da Mariana destacam-se alguns jornais onde o Mário trabalhou e os livros que escreveu. Neste ponto como seria de esperar a "Crónica dos Bons Malandros" (1980) têm um lugar de destaque. Na obra a autora também destaca alguns dos vários jornais onde trabalhou e onde desempenhou várias funções desde repórter até subdiretor. 
    Elena Vieira durante a homenagem relembrou alguns dos momentos partilhados com o jornalista quando trabalharam na redacção do Diário de Notícias e realçou alegremente que o Mário "nunca esteve muito tempo no mesmo local" o que permitiu a sua passagem por várias publicações como jornal A Bola, passando pelo Diário de Lisboa, pelo Record onde foi sub-director. O jornalista, escritor e freguês de São Domingos de Benfica, Mário Zambujal, foi homenageado através de um mural por iniciativa de Francisco Roldão apoiado pela Junta de Freguesia.
    O evento que durou perto de duas horas representou uma expressão cultural da união da comunidade de Benfica e de pertença do autor saído do Alentejo que hoje se sente "enraizado" como freguês de Benfica e teve ainda a participação do músico Carlos Alberto Moniz com dois momentos musicais acompanhado de guitarra.
    Cultura, um termo que pode ter inúmeras interpretações e significados tão vastos que podemos encontrar referências desde a cultura da terra até à cultura artística erudita. A sociologia como estudo da sociedade e das suas interligações debruçou-se sobre a cultura e daqui parti para uma pequena reflexão para uma possível definição de cultura como o conjunto de conhecimentos de uma comunidade adquiridos ao longo do tempo passado e futuro pelos indivíduos que a constituem nas mais variadas formas físicas e intelectuais que constituem uma base colectiva de conhecimento criando um sentimento de pertença, união e participação a todos aqueles que não só a ele têm acesso como também contribuem para a sua manutenção através das suas criações.


Local: Estrada de Benfica em frente nº208  









É outra Loiça

Fundada no século XIX, a fábrica de loiça de Sacavém teve um percurso de tal forma relevante na vida portuguesa que ainda hoje poucas serão ...